Ação coordenada pela conservadora-restauradora Flávia Santos realiza salvaguarda de obras em papel e atividades de formação com foco em preservação cultural

Foto: Pinacoteca Municipal Miguel Dutra / Restauração das obras – Crédito: Fotógrafa Claudia Melo
A Pinacoteca Municipal Miguel Dutra, inaugurada em 1969 em Piracicaba, celebra 56 anos de história no próximo dia 2 de agosto. O espaço abriga cerca de mil obras de arte e teve parte do seu acervo comprometida após transferência para o Engenho Cultural, em 2022. Como resposta à necessidade de conservação e em celebração ao patrimônio histórico abrigado, foi criado o projeto “Arte no Papel: processo de salvaguarda de obras de arte em papel do acervo da Pinacoteca Municipal Miguel Dutra de Piracicaba – São Paulo”, que teve início em fevereiro de 2025 com fomento do PROAC. A iniciativa contempla a restauração de 15 obras em suporte de papel e promove atividades formativas dedicadas à preservação do patrimônio cultural.
Idealizado em 2024 pela conservadora-restauradora Flávia Santos, proprietária do atelier Flávia Santos Restauro e com passagem pela Pinacoteca de São Paulo, o projeto ganhou forma com a colaboração da produtora cultural Barbara Ivo e da empresa Gala Art Installation. A iniciativa se concentra no restauro de obras em papel, que representam cerca de 35% do acervo da Pinacoteca Municipal Miguel Dutra, e demandam atenção especial devido à sua alta vulnerabilidade a variações climáticas, umidade e ação de fungos e insetos. Todo esse processo será documentado em um catálogo previsto para o fim do ano.

Foto: Restauro das obras na Pinacoteca de Piracicaba – Crédito: Fotógrafa Claudia Melo
Além de Flávia Santos, liderando os procedimentos técnicos, o projeto conta com a atuação das conservadoras-restauradoras Priscila Alegre e Margot Crescenti, somando expertises para garantir a integridade e permanência dessas obras. “O restauro de uma obra de arte se faz necessário quando há riscos iminentes à conservação prolongada de sua existência. No caso do papel, qualquer intervenção precisa ser extremamente estudada e planejada antes de aplicada, já que os pigmentos se aderem diretamente à celulose e não podem ser separados em camadas distintas, como ocorre em uma pintura de cavalete”, explica Flávia Santos, que lidera o projeto.

Foto: Restauradora Flávia Santos – Crédito: Fotógrafa Claudia Melo
Casos como os incêndios no Museu da Língua Portuguesa, na Cinemateca Brasileira e no Museu Nacional escancaram a fragilidade estrutural das instituições culturais no Brasil. Menos visível, mas igualmente preocupante, é o desmonte silencioso das equipes técnicas que atuam nos bastidores desses espaços. “Não é comumente difundido que, nos bastidores de uma instituição ou local que abriga acervos, há um trabalho multidisciplinar que propõe e executa medidas de pequena, média e grande escala com os devidos embasamentos científicos, para que haja um funcionamento correto de acordo com as diretrizes museológicas de salvaguarda e comunicação”, afirma Flávia Santos.
A ausência de regulamentação federal da profissão de conservador-restaurador agrava esse cenário, impactando diretamente o funcionamento das instituições. “É raro encontrar equipes completas atuando em museus e espaços culturais descentralizados. Por isso, propusemos o curso “Vivência de Restauro”, como forma de valorizar e introduzir a importância da conservação ao corpo técnico da Pinacoteca e aos que atuam diariamente com esse acervo”, completa. Além da restauração de 15 obras em papel de artistas reconhecidos nacional e internacionalmente, o projeto também propõe refletir sobre as estruturas que sustentam a preservação do patrimônio no país.
Entre as obras da Pinacoteca de Piracicaba que passam por processo restaurativo estão: “Estúdio de cores” (1975) e “Ritual” (1999), de Maria Bonomi; “Virgem de Nápoles” (1967), de Geraldo Nogueira Porto Filho; “Sem título” (1974), de Fayga Ostrower; “Agreste”, de Renina Katz; gravura de Marcelo Grasmann; “Macunaíma e a velha Ceiuci” (1980), de José Carlos Martins; “88” (1984), de Alex Cerveny; “Sem Título I” (1987), de Hélio Ademir de Siqueira; “Sem título”, de Mira Schendell; e Marinha (1905), de Benedito Calixto.
Quatro obras de Alex Flemming integram as ações formativas do projeto: entre os dias 5 e 8 de agosto, “A mulher de Goiás” (1979), “Os bebedores de Coca-Cola” (1979) e “Sem título” (1979) serão restauradas em atividade voltada a convidados e equipe interna. No dia 9, a obra “Natureza Morta” (1978) passa por restauro ao vivo durante a “Vivência de Restauro Arte no Papel”, aberta ao público, das 14h às 16h, com transmissão pelo Instagram e entrada livre, sujeita à lotação.
Texto: Divulgação